07 março 2018 - 12:53
Pesquisa aponta que 86,4% das mulheres que sofrem
assédio no trabalho não denunciam
Primeira pesquisa
de Vitimização de Porto Alegre, divulgada em fevereiro deste ano, revelou que
existem cerca de 441 mil casos de violência contra mulheres na Capital
Deputada Manuela d Ávila (PCdoB)
disse que mulheres não denunciam por medo de perder o emprego | Foto: Guilherme
Almeida / CP
Na véspera do Dia Internacional da
Mulher, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul promoveu, na manhã desta
quarta-feira, um debate sobre violência e gênero. O encontro organizado pela
Procuradoria Especial da Mulher do Legislativo discutiu temas envolvendo
mulheres, entre eles, a violência doméstica.
O Instituto Cidade Segura divulgou,
no evento, novos dados sobre a pesquisa de vitimização em Porto Alegre. A
pesquisa foi realizada com mil pessoas e tratou sobre assédio no ambiente de
trabalho, situações de constrangimento sexual, se o aborto não deveria ser
considerado crime até três meses de gestação e buscou saber opinião das pessoas
sobre se mulheres comportam-se pedindo para ser estupradas, entre outros
questionamentos. Um dos dados que mais chamou a atenção é o fato de que 86,4%
das mulheres que afirmaram ter sofrido assédio em ambiente de trabalho não
denunciaram a situação.
Para a deputada estadual e
procuradora especial da Mulher, Manuela d´Ávila (PCdoB), o fato de não fazer a
denúncia faz parte de nossa cultura, porque as mulheres ainda sentem receio de
perder o emprego. “Isso ainda faz parte da nossa cultura. Porque as mulheres
que sofrem assédio no ambiente de trabalho têm receio da demissão. Por isso é
que nós precisamos falar tanto de assédio. Para que as mulheres se sintam
encorajadas para denunciar e também para que os ambientes de trabalho tenham
espaços para que essas denúncias sejam apuradas”, afirma.
O encontro que foi aberto ao público
reuniu parlamentares gaúchas e integrantes da Ufrgs, Instituto Cidade Segura e
também da Themis, ONG voltada para a defesa e promoção dos direitos das
mulheres. Durante a discussão, além de analisados os dados da 1ª Pesquisa de
Vitimização de Porto Alegre, também foi feita uma análise sobre os julgamentos
de homicídio de mulheres pelo Tribunal do Júri, além de discutir o atendimento
realizado pelas promotoras legais populares, que lidam diretamente com
violência contra as mulheres nas periferias.
A primeira Pesquisa de Vitimização de
Porto Alegre, divulgada em fevereiro deste ano, revelou que existem 441 mil
casos de violência contra mulheres na Capital. Do total, 28 mil foram
assediadas sexualmente, 44 mil já foram estupradas, 238 mil receberam
comentários desrespeitosos na rua, 84 mil foram tocadas sexualmente sem sua
autorização e 47 mil foram agarradas ou beijadas à força.
Dados da nova pesquisa de vitimização
realizada pelo Instituto Cidade Segura em Porto Alegre
Você já teve algum episódio de
assédio no Ambiente de Trabalho?
Do público consultado, 13% disseram
que já foram constrangidos por superior no trabalho com uma proposta ou
insinuação de cunho sexual alguma vez na vida. Destes, a grande maioria – 71,5%
são mulheres. Em relação às mulheres que afirmaram ter sofrido assédio, 86,4%
não denunciaram.
Você já teve algum episódio de
situação de constrangimento sexual?
35,1% das mulheres consultadas na
pesquisa já foram importunadas com comentário de intenção sexual no transporte
coletivo (ônibus, taxi ou carro de aplicativo). Desse número, 96,3% não
registraram boletim de ocorrência. Em dados mais específicos, 13,4% das
mulheres afirmaram que alguém já lhe tocou sexualmente sem o seu consentimento;
7,5% já foram agarradas ou beijadas sem o seu consentimento; e 2,2% das
mulheres afirmaram que homens já tentaram se aproveitar por as mesmas estarem
alcoolizadas.
Aborto não deveria ser considerado
crime até o 3º mês de gestação?
43,2% dos entrevistados concordaram
(totalmente ou em parte) que o aborto não deveria ser considerado crime até o
final do terceiro mês de gestação.
Mulheres se comportam como se
pedissem para ser estupradas?
36,5% dos entrevistados concordam
(totalmente ou em parte) de que há situações em que mulheres se comportam como
se pedissem para ser estupradas. O que chama atenção na pesquisa é que mulheres
concordam em maior proporção com a afirmação.
Fonte:
Guilherme Kepler/Rádio Guaíba